quinta-feira, 29 de julho de 2010

Dejetos de Suínos




A demanda por carne suína e seus derivados estimulou a expansão da criação de suínos, resultando na intensificação dos criatórios em confinamento, especialmente no Oeste de Santa Catarina. Isso trouxe em conseqüência, um grande aumento da quantidade de dejetos produzidos, os quais inadequadamente tratados e reaproveitados, passaram a causar poluição ambiental.

A nova realidade dos mercados consumidores, exigindo produtos de qualidade, preços competitivos e oriundos de sistemas não-poluidores do ambiente, passou a exercer crescente pressão para a reciclagem desses resíduos, dentro de padrões aceitáveis sob o ponto de vista sanitário, econômico e ambiental.

Embora já se conheçam diversas alternativas para a reciclagem dos dejetos, a sua utilização como fertilizante do solo é a mais adotada, por ser a de mais fácil operacionalização nas propriedades rurais.

Deve ser destacado, no entanto, que a operacionalidade não é um critério suficiente, porém, para que se possa considerar o uso como fertilizante, como a solução definitiva para o problema dos dejetos de suínos, pois também este tipo de reciclagem pode ocasionar danos ambientais, conforme é abordado neste artigo.

A adubação com dejetos de suínos e a qualidade ambiental


Os dejetos de suínos têm sido utilizados como fertilizante do solo, porque possuem elementos químicos que podem se constituir em nutrientes para o desenvolvimento das plantas, da mesma forma como aqueles empregados nos fertilizantes químicos.


Mas ao contrário dos fertilizantes químicos, os dejetos de suínos possuem composição química muito variável, em função principalmente da alimentação e manejo da água empregados nos criatórios. Enquanto os fertilizantes químicos podem ser formulados para cada tipo de solo e cultura, os dejetos de suínos apresentam, simultaneamente, vários nutrientes que se encontram em quantidades desproporcionais em relação àquelas necessárias para as plantas. Com isso, as adubações contínuas com dejetos poderão ocasionar desequilíbrios químicos, físicos e biológicos no solo, cuja gravidade dependerá da composição desses resíduos, da quantidade aplicada, da capacidade de extração das plantas, do tipo de solo e do tempo de utilização dos dejetos.

Para que qualquer sistema agrícola adubado com dejetos se constitua num sistema auto-sustentável é necessário que, por um lado, as quantidades retiradas pelas plantas sejam repostas, através de adubações orgânicas ou químicas e, por outro, que as quantidades de nutrientes adicionadas não sejam maiores do que aquelas requeridas pelas plantas.

Se as quantidades adicionadas forem menores, haverá diminuição da produtividade e, por conseqüência, da lucratividade, o que inviabiliza o sistema do ponto de vista econômico. Se as quantidades adicionadas forem maiores, no entanto, haverá acúmulo de nutrientes no solo, resultando, a médio e longo prazo, na deterioração da qualidade do solo e das suas águas.

A situação em outros países


Em outros países onde os dejetos vêm sendo utilizados como fertilizante do solo por longos períodos, como na Alemanha e Holanda, a poluição ambiental exigiu a implantação de medidas restritivas muito rígidas quanto à sua aplicação, na tentativa de preservação e recuperação do solo e das águas de superfície e de subsuperfície.

Na Bélgica, a região de Flandres está em situação crítica. É importantíssimo destacar que naquela região, reconhecidamente de alta densidade suinícola, o total dos dejetos produzidos por todas as espécies de animais criados em confinamento é de 50 ton./ha/ano, uma quantidade inferior àquela verificada em algumas micro-regiões de SC, considerando-se apenas os suínos.

Nesses países, alguns dos principais problemas hoje existentes, como o acúmulo de nutrientes no solo e o excesso de nitratos nas águas, são de difícil solução, pois advêm, em grande parte, do efeito retardado da aplicação de grandes quantidades de dejetos por longos períodos. Nessas circunstâncias, a despoluição das águas e a remoção do excesso de nutrientes do solo, de maneira a se retornar aos teores originalmente existentes, é praticamente inatingível. Prejuízos causados pela aplicação de excessivas quantidades de dejetos ao solo.


A aplicação de grandes quantidades de dejetos ao solo, freqüentemente considerada uma maneira "prática e econômica" de se retirar tais resíduos das instalações, pode provocar o acúmulo de nutrientes, que por sua vez, poderão resultar em prejuízos econômicos diretos aos agricultores, podendo-se destacar:

1. Menos opções para a diversificação das atividades agropecuárias, pela redução do número de espécies possíveis de serem cultivadas, em função da diferente suscetibilidade de cada espécie aos desequilíbrios químicos provocados no solo;

2. Queda na produtividade de cereais, especialmente devido ao excesso de nitrogênio;

3. Intoxicação de animais, ocasionada pelo acúmulo excessivo de determinados nutrientes na forragem, como, por exemplo, o cobre, prejudicial a ovelhas;

4. Menor preço de venda de produtos, como as hortaliças, depreciadas pela diminuição na sua qualidade, devido ao acúmulo de metais pesados, ou pela desproporção entre partes vegetativas e reprodutivas ou de reservas, provocada pelo excesso de nitrogênio no solo.


Causas da demora na percepção dos efeitos negativos da adubação com dejetos de animais


Como causas da demora na percepção da dimensão dos efeitos adversos da utilização de dejetos animais como fertilizante, pode-se destacar as seguintes:

1. As criações em larga escala, resultando em grandes acúmulos de dejetos, são relativamente recentes;

2. O impacto ambiental negativo foi aumentando paulatinamente, de maneira que só lhe foi dada real importância, no momento em que se perceberam conseqüências negativas à saúde pública e à economia;

3. Os dejetos de suínos não são matéria orgânica irrestritamente benéfica ao solo. As adubações orgânicas reconhecidas como benéficas ao solo no passado, eram efetuadas com resíduos de vegetais e de dejetos de animais alimentados fundamentalmente com pastagens ou silagens. Os alimentos atualmente fornececidos aos suínos são, entretanto, altamente concentrados em nutrientes, que não são aproveitados integralmente, motivando a excreção de dejetos mais concentrados em nutrientes e, portanto, muito diferentes daqueles resíduos vegetais e animais classificados como matéria orgânica benéfica ao solo;

4. Foi somente no início da década de 60 que surgiram alguns equipamentos laboratoriais mais exatos e precisos para a determinação de metais pesados, os quais, em pequenas quantidades já são suficientes para causar contaminação ambiental;

5. Os fertilizantes químicos são um insumo escasso e, por isso, as quantidades aplicadas ao solo são as menores possíveis. Os dejetos de suínos, ao contrário, são um resíduo ou "insumo abundante", e, por isso, são aplicados em freqüências e quantidades excessivas em relação à capacidade de absorção das plantas.


Para ilustrar esta situação, pode-se fazer algumas projeções baseadas nas seguintes informações do Oeste de Santa Catarina: rebanho de 3.431.932 cabeças, 20.000 suinocultores empresariais, área apta para agricultura de 791.000 ha e excreção de 32,7 g diárias de Nitrogênio por animal. Nestas condições, cada propriedade suinícola teria uma disponibilidade anual de 2048 kg de nitrogênio proveniente dos dejetos e, para reciclá-los, necessitaria de uma área mínima de terras aptas de 15 ha.


Com isso, mesmo desconsiderando-se o excesso de micronutrientes, a área total mínima por propriedade suinícola não poderia ser menor do que 47 ha, pois apenas a terça parte do total das terras da região são classificadas como aptas para agricultura. Entretanto, 94 % das propriedades rurais do Oeste de Santa Catarina possuem área total menor do que 50 ha e 70 % delas possuem menos do que 20 ha.


Qual é o limite, quanto se pode aplicar de dejetos de suínos em cada solo?


Os dejetos de suínos contêm elementos químicos que, se por um lado podem promover o desenvolvimento das plantas, também podem causar danos ambientais.


A pergunta que se faz é qual a quantidade de dejetos que se pode adicionar ao solo, e por quanto tempo, sem que hajam conseqüências negativas por desequilíbrio iônico, fitotoxicidade às plantas, poluição da atmosfera por volatilização e contaminação das águas de superfície e de subsuperfície por lixiviação, de maneira que os sistemas adubados com esses resíduos sejam auto-sustentáveis?


Independentemente do tipo de solo e região, o ponto de partida para tornar auto-sustentáveis os sistemas agrícolas adubados com dejetos de suínos, é a diminuição da sua carga poluente, destacando-se a quantidade de matéria orgânica e de nutrientes. Várias são as alternativas para atingir tal objetivo, especialmente a utilização de dietas mais bem balanceadas, manejo do rebanho mais adequado, medidas gerais de higiene e linhagens de suínos com aproveitamento superior dos nutrientes fornecidos. Ainda assim, no entanto, persistirá o desbalanço entre a quantidade de nutrientes adicionados e a capacidade de extração das plantas.


A única forma de evitar o desequilíbrio químico do sol, e os danos ambientais advindos do excesso de nutrientes provenientes dos dejetos, é limitar a aplicação da quantidade de dejetos à quantidade de nutrientes extraídas pelas plantas. Os nutrientes não supridos integralmente via dejetos seriam complementados por meio de fertilizantes químicos isentos ou com mínima quantidade de outros elementos químicos contidos nos adubos na condição de impurezas. Isto é especialmente válido para os metais pesados como o cádmio, cromo, arsênio, níquel e chumbo.


Ante a exigência dos consumidores quanto a qualidade dos produtos e a necessidade de preservação da capacidade produtiva do solo e da qualidade da água para as futuras gerações, alguns países europeus têm buscado atingir a meta definida como "resíduo zero", ou seja, somente adicionar ao solo, as quantidades necessárias para se repor o que é extraído pelas plantas, descontando-se as quantidades que ingressam no sistema, qualquer seja a fonte.


Enquanto as pesquisas para o estabelecimento de limites mais condizentes com as plantas, clima e solos brasileiros encontram-se ainda em andamento, alguns critérios podem ser seguidos para disciplinar o uso de dejetos como fertilizante do solo:


1. Fornecimento de dietas mais bem balanceadas para os suínos, evitando-se os excedentes, principalmente de N, P, Cu e Zn.

2. Proceder a análise química dos dejetos, para que as quantidades a serem aplicadas sejam calculadas com base na sua composição de nutrientes, e a demanda de cada cultura em cada solo.

3. Proceder, periodicamente, a análise química do solo, para se conhecer e registrar a evolução do seu balanço de nutrientes.

4. Analisar periodicamente as águas de subsuperfície dos solos onde se aplica dejetos, pois a qualidade da água do solo é o principal indicativo das perdas através do perfil, como de nutrientes, nitratos e organismos patogênicos.

5. Acompanhamento do comportamento das plantas a campo, tendo em vista a detecção de eventuais distúrbios ou sintomas de deficiência ou fitotoxicidade de nutrientes ocasionados pelos dejetos.

FONTE:
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves
Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Caixa Postal 21 - CEP 89700-000 - Concórdia-SC
Tel: (49) 442-8555 Fax: 442-8559
E-mail: sac@cnpsa.embrapa.br



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